quarta-feira, 27 de julho de 2011

A luz no fim do conto e outros unguentos de Augusto Pellegrini


“O Bruxo de Concepción” é o mais novo título do selo Clara Editora. O livro de contos de Augusto Pellegrini será lançado no próximo sábado, dia 30, às 20h, no restaurante Cumidinha de Buteko, no bairro do Cohajap. A noite de autógrafos inclui pocket show de blues e jazz interpretados pelo autor com acompanhamento dos músicos Celson Mendes (violão), Júlio Marins (guitarra) e Miranda Neto (trompete).

Concepción del Oro é uma pequena cidade encravada na parte norte do estado mexicano de Zacatecas, terra natal de Emerenciano Ycaplán, um meio índio asteca, meio obeso, de baixa estatura, que desfrutou de certa fama de milagreiro em homéricas viagens pelo México até ser apanhado de calças curtas por doutores do Conselho de Medicina. A história do bruxo Emerenciano é um dos oito contos que brotam da inventividade de Augusto Pellegrini no seu quinto livro do gênero.

Pellegrini conta que optou pelo conto fantástico em decorrência da narrativa leve, carregada de surrealismo e fantasia. Tudo pode acontecer, segundo ele, para aguçar a imaginação do leitor. Pessoas, animais e coisas se travestem de espíritos ruins, objetos iluminados criam vida, mortos ressuscitam, sons e sombras se juntam no colorido âmbar do cenário e o absurdo se sobrepõe à lógica.

Em “O Bruxo de Concepción”, adverte Pellegrini, os contos não pretendem ser rigorosamente apavorantes. O autor explora certas particularidades de personagens e locações usando o expediente corriqueiro do humor e da ironia. Valendo-se aqui e ali da cumplicidade do leitor, Pellegrini escapa sorrateiro das conclusões óbvias e, ao longo de 125 páginas, surpreende com suas oferendas imaginárias, quebra-cabeças aterradores e unguentos alucinantes.

Augusto Pellegrini é paulista radicado em São Luís há mais de 30 anos, autor de “Coisas”, “O Fantasma da FM”, “À noite, todos os gatos” e “Jazz, das raízes ao pós-bop”. É cronista esportivo do jornal “O Estado do Maranhão”, foi produtor e apresentador do programa de rádio Mirante Jazz, premiado em 1984 pelo New York Radio Festival, e atualmente tem se dedicado a apresentações como cantor de jazz e bossa nova.

“O Bruxo de Concepción”, prefaciado por Ronald de Almeida Silva, é o 22º título do selo Clara Editora, que tem livros publicados de Milson Coutinho, Fernando Abreu, Clóvis Cabalau, Guttemberg Araújo, Joaquim Campelo, Sérgio Brito, Antonio Carlos Lima, Cidinho Marques, Carlos de Lima, Mário Meireles e Kátia Bogéa.

O evento de lançamento de “O Bruxo de Concepción” e o pocket show no Cumidinha de Buteko levam a assinatura da Satchmo Produções.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Diários de fotografia


Foram quase dez mil quilômetros percorridos pelo interior do Maranhão. Fotógrafa paulistana, Bianca Cutait saiu em busca do improvável, do imprevisível. Homens, mulheres, crianças, brancos, pretos, índios, paisagens, objetos e tudo o mais que a lente da câmera alcançasse. Depois de cinco anos de estrada, encantamento, prosa e pesquisa, tudo isso revelaria em 252 páginas as imagens da poética fotográfica de Bianca. Ela visitou cada um dos 217 municípios do estado clicando do chão ao céu, com uma infinidade de anotações distraídas que ajudam a decompor o “olhar distante” sobre a maranhensidade. O resultado da odisséia está no livro “9.357 km de segredos pelo Maranhão”, lançado pela editora Décor na FIESP, em São Paulo, no mês de abril, e com previsão de lançamento em São Luís até o mês de setembro.

Correr atrás do improvável é puro eufemismo. A pressa de São Paulo ficou para trás em 2004, quando Bianca Cutait decidiu fincar bandeira no Maranhão. E qual uma bandeirante da modernidade, entregou-se à missão de desbravar terras cada vez mais distantes e desconhecidas. A primeira visita a São Luís ocorreu em 1999, numa viagem rápida com o pai, o médico Raul Cutait. Retornou seis anos depois para passar o Carnaval. Ficou quase um mês e fez a primeira série de fotos do Maranhão.


Bianca Cutait tem formação em relações públicas e alguns trabalhos realizados na área do marketing político. Começou a fotografar aos 11 anos por influência de Mohamed Bassiouni. “Ele é o meu mestre, ensinou-me muita coisa e mostrou-me os caminhos da fotografia”, diz ela. O que parecia ser apenas uma simples brincadeira acabou virando encantamento. Tudo começou a passar pela lente da fotografia.

Dos vários lugares visitados, alguns de difícil acesso, houve sempre uma história para contar, algumas reveladas nas páginas em papel couchê do livro, e tantas outras para guardar na memória. A realidade, nem sempre atraente aos olhos e lentes da fotógrafa, ora assustava, ora deslumbrava. “Às vezes a realidade é tão crua que dói na alma. Noutras é puro deleite”. Bianca constatou, nos seus diários de fotografia, que no interior do Maranhão a mendicância é uma miragem. Os meios de sobrevivência, pela grande angular de Bianca, estão ao alcance de qualquer um, e talvez bem longe das estatísticas. Mas a fartura, segundo ela, cria o ócio. “A letargia toma conta da vida das pessoas de maneira impressionante; é como se não houvesse horizonte ou terra nova para conquistar”, diz.

Chamou a atenção de Bianca um lugarejo conhecido como Currais, povoado de São Bernardo. Ela encontrou naqueles confins o lugar mais lindo do mundo. O “lugar mais lindo do mundo” faz parte da poética fotográfica de Bianca. A foto poética, de acordo com o conceito da própria autora, é aquela que vai dizer por si alguma coisa. “Se não diz aos outros, diz a mim”, conta. “E como sempre quero dizer mais, resolvi escrever algo sobre aquilo que vi e fotografei”.

Bianca, que morou a vida inteira em São Paulo – com pequenos hiatos fora do País – identificou-se com a atmosfera do Maranhão. Libanesa de sangue, ela foge da estética do trivial. Busca inspiração nos detalhes, nas pequenas coisas. Esquiva-se, por exemplo, das paisagens arquitetônicas que, via de regra, despertam a curiosidade dos fotógrafos que aportam no cais da sagração. “O que me fascina é esse conjunto de coisas que me fazem, a todo instante, abrir os olhos e o coração; são as pessoas, o cheiro, os costumes, a fala, a comida, a expressão no olhar dos maranhenses”.

Além de ter fotografado lugares que considera especiais, Bianca Cutait guarda com devoção fotos que fez de B.B. King, de quem se tornou amiga. Fez também fotos memoráveis dos músicos do Buena Vista Social Club. O alvo pode ser um artista famoso ou um ilustre desconhecido do sertão maranhense. O que importa para ela são os movimentos e os tons de luz.

O maestro João Carlos Martins é uma das principais influências da fotógrafa paulistana. Nele Bianca conseguiu fundir som, imagem e movimento. “Fotografá-lo é a coisa mais incrível do mundo”. Ela fez o trabalho de assessoria de imagem para o maestro. “João Carlos passa um movimento que me fascina; a vida dele é totalmente inspiradora”, define.

A viagem pelo Maranhão foi longa e cheia de aventuras. Mas havia São Luís como porto seguro. Na bagagem, uma máquina digital, uma analógica com filme P&B e uma filmadora.

Os percalços da viagem foram batizados de “bianquices”. Ainda que fosse uma mancada, tudo valeria a pena para tirar uma boa foto, diz ela. Num dos roteiros, em que percorreu a região sul maranhense, Bianca foi parar no hospital de Imperatriz. Tudo por conta do melhor ângulo para tirar a foto de uma índia Krikati, em Montes Altos, que convalescia nua numa rede. Ela quis fazer uma foto sem banalizar a imagem da índia. “Só que eu me inclinei tanto que caí de costas”. A queda lhe valeu uma distensão muscular e dores pelo corpo. Por coincidência, a índia da foto era a curandeira da tribo. “Ela me benzeu, me deu um colar e a dor passou”, conta a fotógrafa. Com a perna imobilizada, Bianca interrompeu a viagem por alguns dias.

Influências místicas acompanharam a trajetória de Bianca Cutait pelo Maranhão. Desembarcou em São Luís em 2004 numa cadeira de rodas e com uma sacola de remédios para tratar forte crise de labirintite. “Na primeira viagem aos Lençóis, esqueci os remédios em casa e nunca mais tive qualquer sinal de labirintite”.

A fotógrafa viveu experiência ímpar em cada trecho, cada pedaço de chão batido. As confissões ganhavam forma de diário no encontro com o inesperado. O caderno de anotações serviu de guia e companhia. “Saía por aí colecionando minhas impressões e coisas escritas por amigos que ganhava, inclusive rabiscos e desenhos de crianças”, comenta. De tudo ficou um enorme laço afetivo. “É tudo tão forte que às vezes tenho a sensação de que já vivi aqui em outra vida”.

O livro do desassossego de Bianca, que ganhou vida em cada esquina das cidades do interior, é farto de material fotográfico e simplicidade. Não espere dele o primor em estética, mas uma carga forte de arrebatamento. De alguém que, de uma história ou outra contada na calçada, sob a luz da lua, tem um encontro fortuito com o destino.


Fragmentos do diário de Bianca

“De longe, ouvi a senhora dizer que minha sina era ter ido para lá, que Deus quis que eu visse tudo aquilo, e que estava marcado no meu destino. Todos se surpreendem com a realidade distorcida, e tantos olhos incrédulos. Mistérios que não se apagam mais. A cada passo, marco dentro de mim um território imaginário”

“As crianças gostam de me seguir. Vou me banhar e tenho bastante companhia. Vou comer e tenho muitos espectadores. Vou dormir e vários me vigiam. É engraçado. Elas me seguem com os olhos, eu as sigo com o coração”

“Já aprendi a fazer xixi de cócoras. Demorou, mas aprendi. Sinto que aprender coisas simples às vezes pode ser difícil. Redundante, não? Aprendi até a ver o sol nos dias mais chuvosos. Nem a picada de marimbondo me deixou nervosa. Nada me incomoda, talvez essa seja a sina sobre a qual a senhora se referia”

terça-feira, 5 de julho de 2011

Britânico no Caburé

O jornalista britânico Alex Robinson, autor de guias de viagem de destinos no mundo, como o “Brazil Handbook”, desembarca em São Luís nos próximos dias numa press trip organizada pela Embratur.

Robinson fará a cobertura do Festival do Bumba Meu Boi, em São Luís e São José do Ribamar, e embarcará num roteiro de aventura pela Rota das Emoções, que inclui os estados do Maranhão, Piauí e Ceará.

No trajeto do jornalista, estão o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, a praia do Caburé, Parnaíba (pequenos lençóis), Parque Nacional do Delta das Américas, Jericoacoara e Fortaleza.