sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Aceito seu coração



A música começa com um verso sereno, suave como um final de tarde de sábado na praia: “Eu não pensava que você viesse pra ficar”. E depois a balada vem inteira, sem rodeios, tomando de assalto o ouvido com tiradas do tipo “em cada dia quero ver de novo renascer/ o amor que nunca mais senti”. É assim mesmo, de tirar o fôlego, a maranhense Rita Ribeiro interpretando “Aceito seu coração”, música de um cara chamado Puruca gravada inicialmente por Roberto Carlos em 1969.

Não há exagero. “Aceito seu coração” é uma pérola aos românticos declarados, incorrigíveis. Sem esforço algum, a voz de Rita Ribeiro alcança uma simplicidade que encanta. A regravação da música pode ser vista num belo videoclipe perdido no oceano do Youtube, ali postado desde 2008. Vale o bilhete de embarque. Dirigido por Luciano Pérez e Jean Wyllys, aquele que venceu o BBB e depois se elegeu deputado federal, o videoclipe tem a medida certa da música, meio retrô, meio casual. O filme é uma elegia desgovernada pelo mar do Rio de Janeiro, alternando com a paisagem dos transeuntes da zona sul e com um cenário caseiro misturando vinhos, incensos, iPods e fotografias em sépia.

“Aceito seu coração” deve ser incluída no próximo CD de Rita Ribeiro. É música pra ouvir, virar pro lado e beijar na boca, como a rigor deve ser a utilidade das baladas românticas. Ou pra ouvir no carro, povoar o cinzeiro, rabiscar um desenho qualquer no papel com a cabeça nas alturas, andar na calçada com o fone no ouvido, pincelar umas letras, escrever uma carta, pendurar um quadro na parede, rever o porta-retrato, beber uma ideia...

A música não é de Roberto Carlos, mas o “Rei” tem dessas manias: deixar com a voz um espólio de canções simples que atravessam o tempo e se misturam com facilidade ao cotidiano. O disco de 1969 tem ainda músicas antológicas, como “Sua estupidez”, “Não vou ficar”, “As curvas da estrada de Santos” e “As flores do jardim da nossa casa”.

Não é uma música tristonha do tipo fossa ou dor de cotovelo, mas uma canção resignada, bem resolvida, que embala com sutileza qualquer romance estremecido, adormecido, e sacoleja corações distraídos. Você pode não acreditar. Apenas sinta.