terça-feira, 31 de julho de 2012

A DITA DURA da massa

Visita às instalações da futura sede do DCE, acaso a DITA DURA chegasse ao poder

Por Joelson Dutra

Das batalhas ideológicas travadas no campus entre 1991 e 1996, saltava aos olhos o debate dualista de retórica colérica e imprecisão focal desencadeado em meio a temáticas como abertura política, nova ordem mundial e - por que não ? - reformulação do cardápio do R.U., afinal nem só de sopa vivia o ser humano.

A grita democrática era geral e todas as lutas, legítimas e urgentes. Porém, a dinâmica caótica dos diálogos mostrava-se tão sedutora quanto uma dor de dente, desanimando e afastando levas de incautos acadêmicos recém chegados ao front.

No divertido relato de Eduardo Júlio – “Uma aventura estética ou o dia em que pichamos as paredes do Pimentão” - encontro o gancho ideal para falar do que talvez fosse, ainda seja e será o mais coeso movimento sócio, etílico, político, esportivo, econômico, lúdico, cultural, etc. da cidade, talvez do país ou quiçá do universo, A DITA DURA.

Infelizmente, por ausência de estudos mais aprofundados, esse fenômeno carece de números para demonstrar a abrangência, relevância e perenidade na vida dos que o experimentaram.

Para entender melhor a gênese de tudo, vamos a um rápido panorama do período acadêmico. O ano para a turma 1991.1 começava com greve geral. O retorno às aulas, meses depois, dava-se num ambiente ainda não tão favorável. Nossa professora de História da Comunicação, cujo nome me escapa, avisara, sem margem para choro ou vela, que deixaria a disciplina no momento da oficialização de sua aposentadoria - e assim o fez, horas depois. Assume então o coordenador do curso, Ruben Carranza Gutierrez, que prontamente decreta:

- Aqui tem sete temas de pesquisa. Dividam-se em grupos que eu retorno no final do período para apresentação.

Era isso ou perder o semestre e, para o bem ou para o mal, o processo criativo gerou, em forma de esquetes, sete pérolas de conhecimento encharcadas de humor, sarcasmo e contestação.

Obviamente, o barulho da criação não agradou a todos. Ironicamente, soubemos que teríamos muito mais do que quinze minutos de fama ao ver o professor de Ética vociferando pelos corredores da comunicação: “São uns inconsequentes e alienados” e “Conversaremos quando forem meus alunos”.

Preocupados, tanto quanto nos permitia a agenda de calouradas, partimos então para palcos maiores e, após a compilação do material, encaramos nosso primeiro ComunicArte. Sucesso de público e renda que produziu a química necessária para grandes parcerias no curso e na vida.

O Rei Papel e parte dos seus súditos da área Itaqui-Bacanga e do Japão

O núcleo sindical da DITA DURA

A ala gospel da DITA DURA: canções evangélicas para "levantar fundos"

A chegada da segunda turma de 1991 e o retorno da manada de dinossauros, devido ao fantasma do jubilamento, proporcionaram, além de uma série de descobertas, o encontro de figuraças, que mais pareciam personagens ficcionais, e o enriquecimento do já espesso caldo cultural do curso completando a seara de onde nasceria A Dita Dura.

Nos anos seguintes, longe da condição de calouros, seguimos derrubando presidentes e aclamando reis. A bem da verdade, é preciso ressaltar que rifamos apenas um único presidente, mas era o da República, aclamamos tão somente um rei, mas foi pra sempre, e A DITA DURA ainda não existia como movimento organizado. Apenas seguíamos o fluxo natural da história, teorizando sobre o cotidiano, elegendo “certezas”, disparando “verdades” e principalmente nos divertindo com as polêmicas e repercussões advindas desse exercício.

O carisma e a alegria do Rei Papel, de nascença André Álvares Fernandes da Silva, aumentou exponencialmente a curiosidade do campus sobre quem éramos e o que fazíamos. Com isso vieram também as cobranças. A principal: por que não direcionávamos nosso potencial pra algo mais produtivo como a conscientização política dos alunos?

Desafiados, deixamos o conforto do Bambu Bar para defender os ideais arduamente edificados em anos de rodas de “mau-mau”. Encontramos na campanha eleitoral do DCE o espaço ideal para conquista de novos domínios. Precisávamos então de um nome e das antigas histórias do amigo Raimundo Nonato, pai de Cláudio Marques, sobre seu tempo de estudante e sua chapa “Canoa - O Pau que boia”. Veio a inspiração necessária para o surgimento de A DITA DURA.

Sem nenhuma premeditação, assumíamos oficialmente a condição de inconvenientes críticos do sistema, inimigos públicos número 4.397 (as outras posições estavam ocupadas por interlocutores mais politizados), ao menos assim parecia ser a época.

Com um monarca, vários súditos e muitos conceitos a contestar, ridicularizar talvez fosse o termo mais apropriado, nos apresentamos para o embate político e como sempre a reputação do grupo – pasmem, tínhamos uma! - e o boca-a-boca fizeram o resto.

Novamente, na tentativa de ser fiel aos fatos, devo acrescentar que não sei se alguém formalizou a candidatura. Conhecendo os envolvidos, acredito que não, mas isso pouco importou pois as demais chapas já nos consideravam uma ameaça a ponto de uma delas formalizar uma proposta de coligação. Como naqueles tempos, entre os muitos “bichos-grilos” do movimento estudantil, algo mais fedia, além da burguesia cantada por Cazuza, reforçamos o desodorante e optamos pelo voo solo. À base de negativas como - “A DITA DURA NÃO coliga”, “A DITA DURA não junta forças” - e encerrando reuniões com “coligamos se vocês tomarem banho” - percebemos que não seria fácil trazer novos ares ao campus.

No melhor espírito do “vamos fazer”, onde de fato nada acontecia até o último minuto, víamos o tempo passar e concretamente nenhuma peça da campanha nas ruas. As bases de nosso programa político eram passadas de forma oral em bares, festas, confraternizações, obrigatoriamente apenas para quem perguntasse e, graças aos céus, o eleitorado tinha outros interesses.

Ocorre, porém, que nossa estratégia desencadeou uma onda de especulações sobre a virilidade da DITA, obrigando o grupo a abraçar a campanha e aplacar o furor popular.

Fácil descrever o dia em que sentamos pra produzir/distribuir todo o material da campanha. Difícil é dar crédito a todos os envolvidos sem cometer injustiças, por isso nem vou tentar confiando que tudo dará certo no final.

Permito-me, porém, fazer uma exceção pra falar de quem, pra mim, teve o grande insight da campanha viabilizando na prática o início dos trabalhos. Laurene Leite que, além da preciosa assessoria criativa, providenciou todo o material necessário para produção (papel, cartolina, cola, hidrocor, tesoura, revistas jornais, etc.), anulando desculpas e gerando mobilização. A nós, anônimos e famosos, coube alimentar a fogueira de ideias e materializar as mais impactantes.

Numa única tarde, às vésperas da eleição, ao redor de uma das mesas da Área de Vivência do campus, com fartos recursos humanos e materiais, começamos a escrever a história da mais arrebatadora campanha que a UFMA já viveu, ou não, como diz o ilustre baiano.

Muitos dos nossos cartazes poderiam figurar como cases de sucesso em campanhas eleitorais. Alguns caíram instantaneamente no gosto popular e alcançaram fácil o objetivo maior: fazer rir.

O cartaz com gráfico de intenção de voto mostrava que DITA DURA saía do papel, passava pelo mural, continuava parede acima até alcançar o teto.

Outro cartaz emblemático exibia a caricatura do nosso Rei Papel acenando para uma multidão de “populares” do quilate de Daniela Mercury, José Sarney, Roseana Murad e outros.

E também o cartaz em que grandes nomes da arte, música e literatura declaravam: “Sou mais A DITA DURA e Papel”.

Com a campanha na rua, os ideais da DITA DURA consolidados e a boca de urna acusando vitória esmagadora, só restava comemorar.

No final vencemos sem levar. Com aceitação total, descobrimos que, por vários motivos, inclusive por falta de inscrição, estávamos inelegíveis, contudo com 1 milhão de amigos, isso antes do facebook, e bem mais forte podendo cantar: “A DITA DURA não precisa de eleição”.

Isso me lembra que, na eleição para o D.A. de Comunicação, única que realmente concorremos, a comemoração foi maior ainda. A vitória iminente nos levou à articulação de planos que incluíam pedidos de recontagem de votos, anulação e até renúncia, mesmo sem local apropriado pra exilar o Rei. Mas isso é outra história.

Tempos felizes aqueles em que a diversão era boa e barata.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A ecologia da alma

“Ecologia e criatividade”, livro da Clara Editora que será lançado hoje na 64a Reunião Anual da SBPC, é um suspiro oportuno e verdadeiro com o qual Moisés Matias nos conta como atravessou o mar vermelho de suas inquietações vividas, de suas vicissitudes. O livro integra a trilogia iniciada com “Sítio ecológico, um guia para salvar a terra”, e que deve ser concluída em breve com “Ecologia e estresse”. De antemão, o leitor deve ser alertado: “Ecologia e criatividade” não é um manual de navegação para ambientalistas ou prontuário de autoajuda, mas uma peça para errantes, escravos do tempo, pessoas comuns, vítimas de cóleras digitais.

Não tem bula, mas é balsâmico. É o encontro do autor consigo mesmo, remoçado. Moisés Matias faz o caminho de volta às suas origens, à infância nos seringais do Acre, recria a passagem pelos Andes no Illimani até se deparar com o processo criativo que brota do contato com as pequenas coisas, no silêncio de Panakuí, o seu porto seguro. Panakuí representa para o autor a reinvenção da ecologia, a ecologia da alma que inspira sossego e abre as janelas da criatividade.

Depois de anos na guerrilha da notícia, no ativismo pagão, na carapuça partidária, Moisés Matias descobriu que “a pressa é inimiga da criação”. Para um jornalista de formação, isso é quase uma heresia. “Aos poucos fui saindo da mídia. Sumi para o mundo e fui atrás de mim, da minha essência”.

Didatismo ou escapismo? O autor acasala livremente simples soluções ambientais com dramas existenciais do cotidiano e retira daí o sal da terra para a sua saúde mental e física. Às vezes o professor fala mais alto, com suas lições e cavalgadas pelas colinas da teoria e pelo pântano das confissões científicas. É também o poeta em transe carregado por sensações, sonhos e pensamentos anotados no papel de pão. É o repórter involuntário, o colecionador de pequenas histórias, o fotógrafo no encalço das orquídeas e dos girassóis e o lavrador urbano.

Esse “ar avoado de quem está sempre ausente” empresta a Moisés Matias a capacidade de ruminar ideias com liberdade, o que o torna esquivo da ecologia cartesiana. O homem em crise, encoleirado pelo excesso de informação e problemas de saúde, encontra forças para dialogar livremente com o menino deixado para trás nas florestas acreanas, o agente da cura.

“Ecologia e criatividade” sugere ao leitor uma reflexão necessária sobre a velocidade dos dias. O livro não é a verdade derradeira, mas indica a linha do horizonte e dá pistas de como aproveitar, a cada segundo, os lampejos de inspiração, sem medo nem pressa. A criatividade, afinal, é como uma locomotiva desgovernada, sem freio. Para criar, é preciso imaginar a trilha.

Moisés Matias revela-se um ser sitiado na sua caldeira de emoções cotidianas, como quem descobre um baú de esperança no final do arco-íris. As páginas dessa ecologia são confissões de um ex-atormentado que descobriu a receita líquida da felicidade interna bruta.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

São Luís e Rio




Rio e São Luís têm similaridades - e também dessemelhanças. Na gente, na cultura, na cor da pele, na história, no batuque, na paisagem. E foi juntando pedaços das sutis diferenças de uma e de outra terra que Betto Pereira e eu fizemos, no Carnaval passado, a música “Maravilhosa”.

Interpretada por Betto e Anna Torres (maranhense talentosa radicada em Paris), “Maravilhosa” ganhou videoclipe especial produzido por Gabriel Steffens, videomaker, estilista e neto de Carmen Steffens.

Gabriel utilizou o clipe para divulgar no seu blog (www.gabrielspaniol.com.br) a grife de sapatos que leva o seu nome.