Não há como falar de reggae no Maranhão sem mencionar o nome de Jimmy Cliff, que partiu hoje aos 81 anos. A música do Jimmy chegou ao Maranhão antes mesmo do reggae aqui criar raízes.
É que antes de tudo – das radiolas, dos clubes, dos DJs, dos contrabandistas de discos e da aparição dos “magnatas” – havia um álbum do Jimmy chamado “Follow my mind”, de 1976.
Um fenômeno, 12 faixas, cada uma melhor que a outra. Não sei se está no topo da crítica especializada (vieram depois outros trabalhos potentes), mas “Follow my mind” será sempre, pra mim, o álbum definitivo. Por tudo. Amizades. Afeto guardado. Fogueirinhas de papel que iluminam a memória.
Nas ruas, nas rádios, no alto-falante dos cinemas nas cidades do interior, o disco de Jimmy encurtou distâncias entre a ilha e o continente. O reggae de “Follow my mind” não era só São Luís. Era o Maranhão. Sertão e litoral. Ouvi desde menino. “Look at the mountains”, “Hypocrites” e “No woman, no cry” (de Bob Marley) fizeram grande sucesso no Brasil. Esta última ganhou a versão “Não chore mais”, de Gilberto Gil, no álbum “Realce” de 1979.
Mas o álbum guardava faixas que pareciam pertencer só a nós, como “Going mad”, “The news”, “I’m gonna live, I’m gonna love” e, principalmente, “Who feels it, knows it”.
Jimmy fez história entre os maranhenses. No dia 14 de novembro de 1990, ao desembarcar no Rio para uma temporada de shows no Brasil, ele disse estar curioso pra conhecer “a capital do reggae no Brasil”, o que deu origem à lenda de “Capital Brasileira do Reggae” e, adiante, de “Jamaica Brasileira”. Duas semanas depois, o cantor comandou aquele que é considerado o maior show em área aberta em São Luís, com mais de cem mil pessoas em volta do antigo pátio da RFFSA (atual praça Maria Aragão).
“Follow my mind” resiste ao tempo. Continua atualíssimo, tocando corações e mentes. Mas não está no Spotify (no Youtube é mais fácil). Reencontrei-me com o LP tempos atrás, por intermédio de Joaquim Zion. E sigo a batida daquele reggae que nunca deixou de pulsar. Como quem sente. Como quem quer saber.
