domingo, 12 de dezembro de 2021

O jornaleiro

Já não há quase bancas de jornais em São Luís. Estão sumindo também os jornaleiros. São poucos agora nas ruas. Estão minguando os jornais, com suas edições franzinas e tiragens minúsculas. Quem haverá de vendê-los? Quem haverá de encontrá-los impressos na esquina? Os jornaleiros estão pagando o pato. 

Aos domingos encontro ainda o César Roberto sentado ali no seu ponto, na rotatória do Olho d’Água. Aos 43 anos, o solitário jornaleiro resiste ao tempo. Não sabe até quando. Sempre de bom humor, ele mantém o otimismo e se protege como pode nesses dias de calor intenso, no sol de quase dezembro. 

Albino, César usa filtro fator 70 para proteger a pele sensível. Há mulher e dois filhos em casa o aguardando todos os dias. O motorista apressado para e toca alto a buzina de sua Land Rover . É a senha. César corre e entrega mais um jornal pela janela do automóvel. 

Os leitores também estão desaparecendo das ruas, como o papel e a tinta. Depois de tudo, César entrega o meu exemplar do jornal e me pergunta quem vai ler tanta notícia amanhã. Saio calado, sem deixar qualquer resposta. César segue na sombra dos domingos.

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