quinta-feira, 16 de junho de 2011

Testemunha afirma que foi coagida por delegado




EDISON LUIZ
FÉLIX ALBERTO LIMA
O Estado de São Paulo
18.06.1999

Prefeita diz que policiais a ameaçaram, na frente de Campelo, para forçá-la a depor contra ex-padre

A prefeita pefelista de Belágua (MA), Rosalina Costa Araújo, confirmou ontem que foi coagida moral e fisicamente pelo delegado João Batista Campelo, atual diretor-geral da Polícia Federal, para depor contra o ex-padre José Antônio de Magalhães Monteiro, em 1970. Segundo Rosalina, os policiais, na frente de Campelo, diziam que iriam “esbofeteá-la” e um deles chegou a apertar seu braço tentando fazê-la confessar que Monteiro era subversivo.

Ela contou que o atual diretor da PF, que assistia a tudo sem nada fazer, modificou todo o seu depoimento para comprometer o ex-padre, que acusa o delegado de tê-lo torturado. “Nada do que eu disse na PF estava no inquérito”, disse a prefeita, que foi arrolada como testemunha de acusação de Monteiro.

Rosalina não gosta de falar muito sobre sua prisão, ocorrida no mesmo dia que a de Monteiro. Segundo relatou, os policiais federais, comandados por Campelo, interceptaram seu carro quando ela ia de Urbano Santos a São Luís, obrigando-a a voltar para o município, onde o ex-padre seria preso horas depois. “Monteiro estava algemado mas, em nenhum momento, vi seus pulsos feridos, como diz o delegado Campelo”, explicou Rosalina. O diretor da Polícia Federal assegurou que os ferimentos em Monteiro teriam sido causados pelas algemas. “Elas estavam até frouxas”, acrescentou Rosalina.

A prefeita parece esconder algo mais grave que possa ter ocorrido no interrogatório de uma hora a que foi submetida. “Não gosto de lembrar disso”, desconversou, alegando que não recordar mais dos acontecimentos. Sua filha Laura, de 27 anos, entretanto, confirmou que alguma coisa ainda permanece oculta. Como a mãe, preferiu não falar, mas chorou ao lembrar daquilo que supostamente seja fato. “O delegado Campelo era um homem duro, grosseiro”, admitiu Rosalina, assegurando que, por algumas vezes, ele permitiu que seus agentes gritassem com ela e até mesmo lhe apertassem o braço, tentando arrancar uma confissão.

“Eu falava que não sabia de nada, e eles [os policiais] afirmavam que, caso não contasse a verdade, seria pior”, comentou Rosalina. Segundo ela, o que impediu uma agressão maior por parte dos três policiais que estavam na mesma sala de Campelo foi a presença de sua família, que a aguardava no primeiro andar do prédio onde ficava a Polícia Federal. Entre os seus parentes, estava o coronel Eduardo Mota, um cunhado. “Se minha família não estivesse lá, talvez eu teria sido agredida”.

Reconhecimento – Rosalina contou que até hoje não sabe porque foi arrolada como testemunha de acusação contra Monteiro, já que não tinha ligação com o ex-padre. Ela era tabeliã do cartório de Urbano Santos. “Campelo me disse que, caso eu não falasse que Monteiro era subversivo, iria perder o meu cartório”, recordou. “Só fui tomar conhecimento do que havia assinado na PF depois que o caso já estava na Justiça Militar”, acrescentou a prefeita, hoje com 66 anos.

As afirmações de Rosalina coincidem com a conclusão tirada pelos juízes da Auditoria da 10ª Região Militar, que inocentou o ex-padre por falta de provas. Segundo a sentença proferida em outubro de 1970, dois meses depois da prisão de Monteiro, os juízes confirmaram que os depoimentos das testemunhas revelam a coação física e moral pela qual passaram durante a fase do inquérito. Os auditores asseguraram, ainda, que o inquérito havia sido feito de forma errada pelo delegado Campelo.

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