A música
My mistake, dos Pholhas, fez um sucesso estupendo no final dos anos 70/começo dos 80 e embalou as tertúlias frequentadas pelos meus irmãos mais velhos em Barra do Corda. Era o tempo da música lenta. Na pista, todo mundo agarradinho, indiferente ao que dizia a canção... Cresci ouvindo em casa essa espécie de “hino” de um romantismo puro, quase ingênuo, carregado de nostalgia.
Só há pouco tempo, ao assistir à série “História secreta do pop brasileiro”, uma adaptação do livro Pavões misteriosos, de André Barcinski, me dei conta de que My mistake é, literalmente, uma tragédia. A letra da música fala de um cara que matou a esposa - porque ela andava saindo com outro – e foi parar na prisão.
Muitas bandas no Brasil, ou “conjuntos musicais” como os Pholhas, só gravavam em inglês, por imposição da indústria fonográfica que inundava o mercado de “enlatados” estrangeiros, especialmente norte-americanos. E o inglês da turma da música não era lá essas coisas. No caso dos Pholhas, aqui e ali eles compilavam frases chupadas aleatoriamente de livros e revistas em inglês e chegavam a uma canção. Foi o caso de My mistake, um espelho das letras do blues, que invariavelmente carregavam nas tragédias cotidianas.
“Eu perdi a cabeça e atirei nela”, diz um dos trechos da música, e os casais lá dançando sob aquela luz negra, como se não houvesse amanhã... Esse “feminicídio” melódico/meloso fez história, engatou romances nas danceterias, rendeu aos Pholhas um cobiçado “disco de ouro” e abriu caminhos para uma breve carreira internacional.
A foto de capa do álbum é um capítulo à parte, algo emblemático, com os quatro integrantes entonados em traje que indicaria, anos depois, um flerte da banda com o rock progressivo.
My mistake não morreu. Só a mulher que saiu com outro.