À margem da nossa história, fascículo que compõe a série Quadros da vida maranhense, engenhosamente organizada por Sebastião Moreira Duarte e editada pela Academia Maranhense de Letras, é um compêndio primoroso e ligeiro de curiosas passagens da história do Maranhão, narradas por Jerônimo de Viveiros.
São textos publicados em jornais de São Luís em princípios da segunda metade do século passado que alcançam temas pitorescos, objetos da argúcia de um pesquisador incansável. Professor e historiador, Jerônimo de Viveiros dedicou-se, por longo tempo, a correr os olhos por documentos oficiais, manuscritos, livros e, principalmente, jornais, em arquivos públicos e bibliotecas.
Foi debulhando esse acervo garimpado por décadas que Jerônimo de Viveiros ganhou assento na imprensa e ali deixou, esparsas, anotações fundamentais para a compreensão de muitos episódios que marcaram indelevelmente a história regional.
Em À margem da nossa história, o autor disseca querelas costumeiras entre a igreja e o estado, uma delas protagonizada pelo bispo Dom Pádua e Belas, ao tomar posse na Sé maranhense durante o Período Colonial; expõe a chaga política deixada sobre os herdeiros do sobrenome Beckman; e narra o escandaloso saque de Lorde Cochrane aos cofres da província: “Deixou limpos de dinheiro [em 1824], tão limpos que só três anos depois pudemos começar a pagar a parte que nos coube”.
Dentre personagens à margem da história, Viveiros traz a lume a figura de Rita Medeiros, “alcoólatra, pornográfica e patusta”, cantadora de destaque do sertão maranhense na segunda metade do século XIX. E, recorrendo à escritura de João Francisco Lisboa, relata a cruzada falimentar de Domingos da Silva Porto, o estelionatário que roubou o coração de Ana Amélia, o grande amor do poeta Gonçalves Dias.
Não são estudos aprofundados, mas apontamentos que denotam peculiaridades escondidas no subtexto da história. Onde foi parar o imenso tesouro das seculares igrejas de Alcântara? O que levou parte da população de São Luís a deixar a cidade em 1905? As respostas estão nesse breve relicário de Jerônimo de Viveiros, que, com estilo livre e despretensioso, ajuda a compor a história sem fim dos maranhenses.
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