segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Amigos extraordinários




O amigo extraordinário não sabe de cor as datas especiais, não requer cuidados, não exige atenção. Não precisa estar ao lado a vida inteira. O amigo extraordinário não vive de expectativas, não tem pressa para o próximo abraço, nunca pede explicações, não cobra um telefonema. O amigo extraordinário não discute a relação, não faz pacto de fidelidade, não combina horário, não torce para o mesmo time. Jamais torce o nariz.

Fazer amigos não é um bicho de sete cabeças. Eles estão por perto, não voam alto, não desaparecem. Mas amigo extraordinário é outra história. O amigo extraordinário cria asas, vai estudar fora, casa, muda de endereço e telefone, tem uma família pra cuidar, responsabilidades que naturalmente pesam ao longo dos anos. Frequenta novos círculos de relacionamento criados na faculdade, na pós-graduação, no clube, na igreja, no ambiente de trabalho. Tão completo é hoje esse amigo extraordinário - pensava eu com os meus botões – que ele é incapaz de olhar pelo retrovisor e enxergar o velho casarão da Rua do Passeio abarrotado de meninas e meninos sem plano de voo algum para o futuro, sem sobrenomes, becas ou jalecos; sem alianças, escrituras ou consórcios.

Mas não, ele não rompeu os laços com o passado. O amigo extraordinário é alguém que de fininho saiu da festa de formatura da escola – como quem foi ali na esquina comprar cigarros –, te reencontra trinta anos depois e o calor do abraço continua o mesmo, a mesma intensidade daquele afeto que jamais foi esquecido. O amigo extraordinário tem alma grande, acolhedora. Resignado, sabe esperar a vida lhe restituir amores guardados debaixo das cobertas de cada janeiro.

O tempo tem sido o nosso melhor amigo extraordinário, porque nos deu o privilégio de atravessar com lucidez e pés no chão um dos períodos mais fecundos da humanidade em matéria de evolução tecnológica e comportamento. Veja o que a vida fez com a nossa juventude! Furamos a fila e fizemos a travessia para o século 21 cheios de incertezas, mas altivos. Como fomos sortidos de solavancos tecnológicos, um atrás do outro! Da máquina datilográfica saltamos para o computador, e logo para a internet. Revolução que continuou com o telefone celular, a TV digital, o smartphone e a imensa teia de mídias sociais.  

E foi essa teia que remexeu o tempo e abriu o baú extraordinário da nossa amizade. Redescobrimos agora amigos extraordinários como se estivéssemos iniciando uma jornada nova, como se amanhã fosse o começo de mais um semestre letivo esplendoroso dentro dos nossos corações. Valeu, Adriana, pela culpa, pela coragem de abrir a primeira fresta, pela escavação desse tesouro, pela imensidão de entusiasmo e por essa vocação quase arqueológica de achar gente.

Muito obrigado, Ana Rosa, pela companhia diária dos teus jardins de Holanda e por essa brisa de otimismo que sai do Mar do Norte, atravessa o Atlântico e vem soprar na nossa praia. Vejo flores em você! Raquel, tua gargalhada sincera me interessa, é o nosso bálsamo. Riam mais vezes, Ana Lídia e Naíza, até que se esgotem todos os emotcons! Viramos dependentes químicos da alegria de vocês. Sweet Lilian, continue catando poesias e folhas de ipês pelo chão de Brasília, e não esqueça de oferecê-las aos amigos extraordinários nessas manhãs enfadonhas de segunda-feira. Rômulo, grande irmão, ouça “Sweet Virginia” qualquer dia desses nas tuas festas particulares, verossímeis, e não esquece de agradecer a Deus pelo vinho da sexta-feira. A tua imaginação refinada está na pressa escondida sob o sapato de couro apache.  

O que seria do vinho sem o farto queijo de Rosana? O que seria de nós sem essas orações de confiança na primeira hora da manhã? Vai, Enésio, estica o passo que a caminhada é longa. Curta a vida, Telma! Froz, uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar contemplando melhor a paisagem que invade a tua janela. Viva o bom humor, Layra! Vamos nos permitir a piada maledicente, o vídeo desconcertante, a foto constrangedora. Vamos brincar de roda com a lucidez parabólica de Josy e a alegria hiperbólica de Maria Felix. Dancemos com Ana Silvina, dona da pista e dama da fotografia sempre à espreita, bem resolvida e pronta pra o que der e vier.

Mais solidário com os seus amigos extraordinários que solitário em aeroportos intermináveis, Ney é o agnóstico que todo bom cristão quer ter por perto, o grande menino barbado apanhador de histórias do mundo. Não há caminho sem paixão e fé, Stanys, Angélica, Eliza e Maria Alzina. Nildete e George, trabalhem com moderação e não esqueçam as origens. Dário e Gilberto, não importa o tempo, não importa se no rio Tejo, nós vamos sempre lembrar das peripécias do Cândido. 

Ritinha, Ana Célia, Celimar, Adilson, Viramy, Carmem, Ana Célia, Silvia, Joertha e Cristina sempre estarão do lado esquerdo do peito. Talvez eu não fosse a mesma pessoa se não tivesse um dia a sorte de sentar no mesmo banco do colégio com Leila, Marta, Gina, Totó, Silvinha e Célia. Talvez eu nem me arriscasse agora nas palavras não houvesse frequentado as aulas de mestre Valdivino. Talvez eu tivesse feito aquele discurso de formatura em 1985 se entre nós já não existisse um orador nato. Quem sabe o desfecho não seria outro? Quem sabe? Adelman, Mauro, Hélida, Silvia Maciel, Liane e Niedja, vocês fazem parte dessa história.

Rosa, não esquece de abrir a porta e acender o globo faiscante do paraíso. As cores são nossas, a casa é tua! Solta o grito, Goreth, e alimenta os teus amigos com folia e ceviche de poesia! A carne é fraca, Marcelo! Chega mais perto, Rogério, nosso querubim sem cachos, o anjo do enquadramento. A vida é um grande risco e carece de fantasia. Patrícia, Luciano e Sergei, quebrem o silêncio e apertem os cintos, o piloto Seba sumiu! Chris, esse avião azul desgovernado um dia pode até cair, mas ainda vai fazer mil piruetas no ar.

Só uma coisa é certa: amigos extraordinários não caem do céu. Porque é lá, num canto qualquer do azul de cima, que eles vão se encontrar casualmente depois da prova final. Pra esse tumulto de afeto dentro da gente. Pra última resenha. E para o que mais vier. Viva o extraordinário sentido da existência! 

7 comentários:

  1. Lindo texto meu caro amigo Félix. Oh lembrança e saudade boa que deu.

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  2. Lindo texto meu caro amigo Félix. Oh lembrança e saudade boa que deu.

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  3. Lavei minga alma com lágrimas de alegria, saudades e muito amor.
    Obrigada, Félix Alberto, pelo grande amigo extraordinário que és. TE AMO MEU AMIGO. bj.

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  4. Lavei minga alma com lágrimas de alegria, saudades e muito amor.
    Obrigada, Félix Alberto, pelo grande amigo extraordinário que és. TE AMO MEU AMIGO. bj.

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  5. Obrigado, Leila e Adriana, a amizade de vocês é inspiradora! Bjs

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  6. Amigo Félix, a casa é sua, a casa é nossa, a casa sempre será dos amigos extraordinários! Obrigada pela citação e por definir perfeitamente essa relação de amizade que permanece até hoje. Parabéns pelo lindo texto. E vamos "fazer o globo girar" mais vezes para celebrar a felicidade! Abraço

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  7. Obrigado, amiga Rosa! Vamos girar em volta do globo. bjs

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