“Ecologia e criatividade”, livro da Clara Editora que será lançado hoje na 64a Reunião Anual da SBPC, é um suspiro oportuno e verdadeiro com o qual Moisés Matias nos conta como atravessou o mar vermelho de suas inquietações vividas, de suas vicissitudes. O livro integra a trilogia iniciada com “Sítio ecológico, um guia para salvar a terra”, e que deve ser concluída em breve com “Ecologia e estresse”. De antemão, o leitor deve ser alertado: “Ecologia e criatividade” não é um manual de navegação para ambientalistas ou prontuário de autoajuda, mas uma peça para errantes, escravos do tempo, pessoas comuns, vítimas de cóleras digitais.
Não tem bula, mas é balsâmico. É o encontro do autor consigo mesmo, remoçado. Moisés Matias faz o caminho de volta às suas origens, à infância nos seringais do Acre, recria a passagem pelos Andes no Illimani até se deparar com o processo criativo que brota do contato com as pequenas coisas, no silêncio de Panakuí, o seu porto seguro. Panakuí representa para o autor a reinvenção da ecologia, a ecologia da alma que inspira sossego e abre as janelas da criatividade.
Depois de anos na guerrilha da notícia, no ativismo pagão, na carapuça partidária, Moisés Matias descobriu que “a pressa é inimiga da criação”. Para um jornalista de formação, isso é quase uma heresia. “Aos poucos fui saindo da mídia. Sumi para o mundo e fui atrás de mim, da minha essência”.
Didatismo ou escapismo? O autor acasala livremente simples soluções ambientais com dramas existenciais do cotidiano e retira daí o sal da terra para a sua saúde mental e física. Às vezes o professor fala mais alto, com suas lições e cavalgadas pelas colinas da teoria e pelo pântano das confissões científicas. É também o poeta em transe carregado por sensações, sonhos e pensamentos anotados no papel de pão. É o repórter involuntário, o colecionador de pequenas histórias, o fotógrafo no encalço das orquídeas e dos girassóis e o lavrador urbano.
Esse “ar avoado de quem está sempre ausente” empresta a Moisés Matias a capacidade de ruminar ideias com liberdade, o que o torna esquivo da ecologia cartesiana. O homem em crise, encoleirado pelo excesso de informação e problemas de saúde, encontra forças para dialogar livremente com o menino deixado para trás nas florestas acreanas, o agente da cura.
“Ecologia e criatividade” sugere ao leitor uma reflexão necessária sobre a velocidade dos dias. O livro não é a verdade derradeira, mas indica a linha do horizonte e dá pistas de como aproveitar, a cada segundo, os lampejos de inspiração, sem medo nem pressa. A criatividade, afinal, é como uma locomotiva desgovernada, sem freio. Para criar, é preciso imaginar a trilha.
Moisés Matias revela-se um ser sitiado na sua caldeira de emoções cotidianas, como quem descobre um baú de esperança no final do arco-íris. As páginas dessa ecologia são confissões de um ex-atormentado que descobriu a receita líquida da felicidade interna bruta.
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