quarta-feira, 2 de maio de 2012
Um roteiro de Spielberg, por Alessandro Lamar
Em 1993, eu li “Os Tambores de São Luis” e fiquei encantado com a obra! Não apenas pela riqueza de detalhes com que Josué Montello descreve a cidade, os fatos, as pessoas e as coisas, mas principalmente pela forma como ele conta a história de nossa cidade a partir de um trajeto da Madre Deus à Camboa, passando pelo centro, feito por Damião (protagonista), que saiu de casa pra conhecer um filho marinheiro (faz tempo que li...). Imediatamente, liguei pra minha alma gêmea Christian e disse a ele: “Vamos escrever o roteiro e produzir Os Tambores de São Luís – o filme!”. Como Christian sempre conseguiu ser mais maluco do que eu, ela já apareceu na nossa primeira reunião na Fábrica de Velas (histórico ponto na Rua de Santana que era da família dele) com a definição dos atores que fariam Damião: na primeira parte, até a alforria e estudos, seria Norton Nascimento (falecido ator que na época fazia muito sucesso com um personagem chamado Wotan); na maturidade, Milton Gonçalves. Pronto! Faltava agora escolher as locações, os outros atores (pensamos em dar também uma chance aos atores locais, seria sacanagem nossa deixá-los de fora) e os diálogos, que Christian já havia adiantado alguma coisa. Ficamos horas esboçando o trailer, as batidas dos tambores da Casa das Minas, todos os detalhes contemplados, e agora? Agora era definir uma agenda de encontros pra ver como faríamos isso tudo. Em 1993 não havia tanto incentivo assim como hoje, e foi então que tivemos a grande, imensa, magnífica e genial ideia: escrever o roteiro e enviar para Steven Spilberg! Somente ele poderia produzir o nosso filme! Mas como chegar até Steve (já éramos amigos íntimos)??? Foram necessárias várias semanas pra chegarmos à conclusão final: vamos ligar pra ele! Sim, e o telefone dele, qual era? (em 1993 não havia celular e nem internet aqui em São Luís). Depois resolveríamos essa questão. Seguimos com os diálogos (escritos à mão pois em 1993 não havia computador disponível, só pros ricos) e roteiro e a coisa foi pegando forma. Todos os atores (não me lembro mais quais eram) escolhidos, o roteiro caminhando, galera, era puro prazer isso!!!
Bom, voltamos ao Steve! Teríamos que descobrir o endereço do nosso amigo Steve e enviar a ele uma cópia do projeto (pense com a cabeça de hoje, mas no mundo de 1993, como encontrar o endereço de Steven Spilberg, sem internet e sem celular?). Resolvido, faríamos isso! Passaram-se alguns dias e fizemos mais uma reunião, acho que a penúltima, justamente pra discutir qual o discurso que utilizaríamos no OSCAR, isso mesmo, OSCAR!!! Nosso filme venceria o OSCAR de lavagem pois o livro era maravilhoso, nosso roteiro (que não passou de três páginas) imbatível e Steven Spilberg era o cara. Putz, pra quem iríamos agradecer, era pouca gente, agora quem não iríamos sequer mencionar: Cesar e Marcelo, que debochavam do projeto, e Biné, que ficava tirando onda. Esses caras iam ficar esperando falarmos o nome deles na televisão quando recebêssemos a estatueta e iam passar batido. Muito legal, divertido, visualizamos a fama, mas, de repente, veio a questão chave: e se Steven Spilberg enrolasse a gente? E se ele pegasse nosso filme e dissesse que era dele, sem nos dar os créditos? Pensamos em registrar no cartório de São Luís, mas isso não teria validade para nosso já não mais amigo Steve. Quer saber – pensamos – Steven Spilberg, vai tomar no teu c. que tu vai ficar com nosso filme!!! Engavetamos o projeto!
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